Desde de que comecei a lecionar na área da Farmácia Clínica, percebo que os alunos nem sempre dão a devida importância para as medidas não-farmacológicas. Essas medidas são aquelas não relacionadas com os medicamentos que o indivíduo irá utilizar, mas sim com algum tipo de ação que ele deverá executar para favorecer a cura ou controle da condição. Elas podem ser mudanças no estilo de vida, comportamentos, atitudes, emprego de técnicas diversas, entre outros.
Infelizmente, ao longo do tempo, muitos profissionais passaram a focar muito nos medicamentos. Não digo isso apenas em relação aos farmacêuticos, mas também a outros profissionais. Atualmente, qualquer solução rápida e prática sempre tende a se sobrepor àquelas que demandam esforço e mudanças na rotina. Ninguém quer mudar! Dessa forma, as medidas não-farmacológicas acabam caindo no esquecimento. Afinal, é muito melhor pensar que um simples comprimido resolve tudo, não é mesmo?
Medidas não-farmacológicas funcionam
Um dos grandes mitos que se vê por aí é dizer que as medidas não-farmacológicas não funcionam. Porém, é possível identificar vários casos que elas são fundamentais para o tratamento. Um exemplo clássico é para diabetes e hipertensão: mudanças alimentares e perda de peso são tão fundamentais, que é quase impossível que um paciente atinja o controle sem elas. Sendo assim, todo profissional de saúde deve estimular que os seus pacientes se comprometam com medidas que vão além da simples adesão à farmacoterapia.
O paciente deve entender, desde o início, que os medicamentos sozinhos não fazem milagres! Os medicamentos são maravilhosos, não me entendam mal. Porém, é importante entender que eles são apenas uma parte do tratamento – os profissionais devem mostrar o caminho para a saúde e não apenas vender produtos. A saúde compreende muitas coisas além do medicamento, é um conceito que deve estar sempre na mente dos profissionais de saúde.
Existem medidas não-farmacológicas para (quase) tudo
Praticamente todas as condições de saúde possuem medidas não farmacológicas: hipertensão, diabetes, dislipidemias, gota, micoses, insônia, perda de peso, tabagismo, constipação, diarreia, dores de cabeça, dermatites… a lista é praticamente sem fim. Dado esse fato, uma dica importante que dou é: prepare-se. Sim, prepare-se!
Não espere precisar das informações para buscá-las. Você já deve ter visto o meu artigo sobre a estratégia para começar, e lá eu disse para você elencar as doenças e condições mais frequentes no seu cenário de prática. Já tire um tempo e prepare um material contendo as principais medidas não-farmacológicas para cada uma dessas condições. Embora um dos fundamentos da Atenção Farmacêutica seja o atendimento individualizado, raramente as medidas não-farmacológicas irão mudar de paciente para paciente. Quando isso acontecer, é mais fácil editar rapidamente o que está pronto do que criar algo do zero. Facilite a sua vida e aprenda a poupar seu tempo!
O seu paciente agradece
Eu já atendi diversos pacientes que tiveram resultados maravilhosos com medidas não-farmacológicas. Me lembro de um caso específico de constipação que recebi até presente uma semana depois. O que fiz? Pedi para o paciente comer alimentos com fibra (listei quais, de acordo com o que ele podia pagar) e beber bastante água. O presente era simbólico, uma sacolinha de biscoitos caseiros, mas me inundou de um sentimento de reconhecimento indescritível.
Você irá perceber a importância das medidas não-farmacológicas rapidamente, e seu paciente também – basta começar a enfatizá-las. Então, nunca esqueça delas! Se quiser conversar mais sobre isso, consulte um supervisor clínico. Ele poderá te ajudar bastante na organização de tudo que você precisa.
Prof. M.Sc. Wallace Bottacin
Farmacêutico